Diálogo flácido para acalentar bovino (ou conversa para boi dormir)

23.1.14 Pássaro Bege 1 Comentarios


Dedicado aos amigos Renato e Rosano (companheiros de vários mingaus nas madrugas do Cais) e aos idealizadores do livro-manual "Se saindo das butadas", que já é um Best-seller mesmo antes de ser publicado.


- Quando bebemos demais e perdemos a hora do último ônibus, qual o melhor procedimento a fazer ao chegar ao Cais de Santa Rita?
- Ora, compras um mingau de cachorro ao senhor "Boy". A referida bebida é uma bomba calórica que te manterá em vigília.
- E se no cais, logo após comprar o mingau, chegar o busão das três?
- Das duas uma: Ou corres para o ônibus e queimas as pontas dos dedos ou ficas com um mingau numa mão e um cigarro entre o indicador e o médio da outra, esperando o próximo carro. Podes ainda segurar o cigarro entre as pontas dos dedos polegar e indicador, a depender do seu estilo e do seu cansaço. 
- Certo. Mas e se eu fico no Cais e não tem mais bacurau?
- Normal.  Acaba o mingau, dá o góia do cigarro a algum serrote pidão e ruma pra Guararapes ou, quem sabe, estica pra Boa Vista. Em caso de possuir algumas moedas na algibeira, cogite comprar um pingado e um pão na chapa, porque o percurso pode ser desgastante. Evite as coxinhas, certeza ainda serem as de ontem. 
- Mas sabemos que o percurso por essas bandas entre as 3h, 4h da manhã é repleto de maletas de todas as espécies.
- Nesse caso, queime a ponta dos dedos, mas não perca o das três, oras!
- Certo. Mas se na corrida além de queimar os dedos, eu derrubar o mingau?
- Frente essa tragédia, sente-se perto do cobrador e informe a ele sua parada, posto que provavelmente vás dormir e passar direto donde costumeiramente saltas.
- E se cobrador também dormir?
- Perderás a parada onde saltas e acordarás no terminal. 
- E se não possuir moedas para pagar outra passagem?
- Tendo essa certeza, porque diabos tu comprarias um mingau de cachorro? Aí é arriscar-se, ser imprudente. Deves sempre guardar certas quantias no bolso para futuras agruras.
- Mas o mingua é um real e a passagem dois e quinze, tanto fazia comprar ou não o mingau, donzelo!
- Te enganas. Mesmo com a catraca na frente, sempre rola uns pulos com o cobra.
- Tá bom, que seja! Mas suponhamos que tenha comprado o mingau e ficado zerado, e agora?
- Terás que esmolar. Contudo, desças do carro soberbo como se nada de angustiante ocorrera. Procure a primeira barraca em frente à Escola Fundação Bradesco - caso tenhas pegado o Vila Dois Carneiros - e contes num tom melancólico sua peregrinação infeliz ao simpático senhor ou senhora que naquele fiteiro labuta.  
- Com certeza a velhota, ou o velhote, negaria por haver escutado milhares de histórias semelhantes. 
- Pouco importa, tua lábia não será a mesma dos infelizes de outrora.  
- E se me der vergonha na hora de pedir?
- Arromba-te! Porque aí já estás com diálogo flácido para acalentar bovino para cima de mim.




Um comentário:

  1. Eita texto massa viu monstro, acabo de lê-lo aqui pelas madrugadas de Jampa numa vibe, numa relax, numa tranquila, numa boa!!
    E vendo como tu escreve coloquial, numa linguagem formal da porra rsrs
    Eu fui lendo e já pensando "que bixo pra ser pessimista da porra, é o cara dando jeito pra tudo e ele arruma problema, ta com a porra, aí diria isso mesmo, te lasca porra" rsrs
    abrax

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